segunda-feira, maio 11, 2009

Domingo, 10 de Maio de 2009

GP da Espanha - Corrida


São Paulo, Brasil - Existem pequenas e simbólicas diferenças entre bons pilotos e pilotos campeões. Bons pilotos são rápidos, porém inconstantes; pilotos campeões são constantemente rápidos e regulares. Bons pilotos superam seus próprios limites em raras ocasiões; Pilotos campeões andam sempre acima do próprio limite. Bons pilotos são brilhantes em raras oportunidades, sendo comuns na maioria das vezes; pilotos campeões são constantemente brilhantes, sendo comuns em poucos momentos. Mas, mais do que isso: bons pilotos fazem apenas o básico quando pilotam carros claramente vencedores; pilotos campeões são superiores com extrema facilidade nessas condições.

O GP da Espanha transformou-se em um dos vários capítulos da história da Fórmula-1 que escancara tais diferenças. Dois pilotos dominaram a prova, em momentos distintos: Rubens Barrichello e Jenson Button. A bordo de um carro vencedor, Barrichello novamente fez o seu papel, como um bom piloto que é. A bordo do mesmo carro vencedor, Button novamente pilotou como um campeão e venceu pela quarta vez na temporada. Simples assim. E, se havia alguma dúvida sobre a hierarquia dentro da Brawn GP, hoje ela foi definitivamente eliminada.

Vamos aos fatos deste 39º GP da Espanha:


- Na largada, Rubens Barrichello foi excepcional: voou como um leão pra cima de Jenson Button e pulou da terceira posição para a liderança da prova antes mesmo da primeira curva. Felipe Massa também largou muito bem, mas diante da postura defensiva de Sebastian Vettel, conseguiu galgar apenas uma posição. Largando da primeira fila, o alemão partiu muito mal e caiu para o quarto posto. Kimi Räikkönen foi outro que fez uma boa largada e completou a primeira volta já na 10ª posição, ao contrário de Nelsinho Piquet, que caiu do 12º para o 14º posto.

No entanto, um acidente entre quatro carros provocou a entrada do Safety Car já na primeira volta. Nico Rosberg disputava posição com Jarno Trulli quando jogou-o para fora da pista; o italiano patinou na caixa de brita e retornou à pista completamente atravessado, em uma situação de altíssimo risco. Adrian Sutil, que já havia errado a primeira curva e não tinha nada a ver com a história, acertou em cheio a Toyota de Trulli e tirou ambos da prova. Sébastien Buemi, ao ver a confusão à sua frente, tirou completamente o pé e foi acertado em cheio por seu companheiro de equipe, Sébastien Bourdais. Acidente típico de corrida, fim de prova para os quatro pilotos e mérito para Lewis Hamilton, que viu todo aquele auê à sua frente e conseguiu escapar ileso. De tudo isso, vale registrar a enorme sorte que Trulli teve ao não ser atingido com maior gravidade.


- Cinco voltas depois, o SC retornou aos boxes e uma nova largada foi dada, com Barrichello mantendo a liderança, imediatamente à frente de Button. Um pouco mais atrás, Fernando Alonso e Mark Webber protagonizaram o momento mais bonito da corrida, em uma linda manobra de ambos: Alonso partiu pra cima de Webber, que o espremeu na parte suja da pista; ainda assim o espanhol utilizou a grama para superar o australiano, por pouquíssimo tempo: o piloto da Red Bull foi arrojado e preciso o suficiente para dar o "xis", em uma manobra muito rápida, e retomou a posição de Alonso. Continua inspirado, o australiano.

- Na 6ª volta, Heikki Kovalainen deu sequência à sua maré de sorte e abandou a prova com problemas hidráulicos. 12 voltas depois, foi a vez de seu conterrâneo Kimi Räikkönen deixar a corrida com problemas no acelerador. Um péssimo fim de semana para os pilotos finlandeses.

- A Ferrari, por sinal, deu sequência às suas atuações patéticas nessa Temporada 2009: como se não bastasse o erro coletivo que tirou de Räikkönen a possibilidade de avançar ao Q2 na classificação de ontem, hoje o F60B mostrou-se mais problemático do que o seu antecessor. Pior: Felipe Massa, que vinha em uma ótima prova e tinha o 4º lugar garantido, sofreu com erros estratégicos da equipe e teve que literalmente tirar o pé nas últimas cinco voltas, perdendo posições para Vettel e Alonso - se mantivesse o ritmo, sofreria pane seca. Até quando a equipe italiana continuará protagonizando episódios tão ridículos quanto esses?


- Voltando ao início da prova: Barrichello e Button estavam em uma briga aberta, trocando melhores voltas em um ritmo amplamente superior aos demais pilotos, em uma prova clara da incontestável superioridade da Brawn GP nessa temporada. O brasileiro parecia estar na briga pela vitória, já que estava mais pesado que o inglês e em alguns momentos até mais rápido. Mas o líder do campeonato alterou sua estratégia, passando a fazer apenas duas paradas, ao invés das três paradas de Barrichello.

O segundo piloto da Brawn liderou metade da prova e imprimiu um ritmo alucinante, sendo cerca de 8 a 9 décimos por volta mais rápido do que Button. Mas para fazer valer sua estratégia de três paradas, deveria andar no limite durante quase toda a prova. Nesse ítem, Barrichello fracassou: após sua segunda parada, voltou na 4ª posição e perdeu a vitória, precisamente, na 40ª volta. Neste momento, o inglês anulou inteiramente a diferença perdida para o brasileiro no cronômetro e soube ser constantemente rápido - o suficiente para sair de seu último pit-stop cerca de sete segundos à frente de seu companheiro de equipe. O resultado estava definido.

- No mais, foram raríssimas as brigas por posições. Sebastian Vettel passou a prova inteira encaixotado atrás de Felipe Massa e teve atuação bastante apagada, largando três posições à frente de Mark Webber e chegando imediatamente atrás de seu companheiro de equipe. Webber, por sua vez, foi o nome da prova: protagonizou o grande momento da corrida, foi rápido o suficiente para fazer valer sua estratégia e conquistou uma mais do que merecida terceira posição - seu segundo pódio na temporada. Brilhante atuação do australiano.

- Quem esteve discreto durante toda prova mas conseguiu um grande resultado final foi Fernando Alonso. O piloto da casa largou no oitavo posto e terminaria em 6º, mas alcançou a 5ª posição graças ao problema sofrido por Massa. E assim o espanhol vai conquistando regularmente seus pontos; é o máximo que pode fazer com esse carro-caixote da Renault, e é exatamente o oposto do que faz seu companheiro de equipe: Nelsinho Piquet terminou onde largou, na 12ª posição, e só apareceu nas imagens da transmissão da prova quando foi superado por Lewis Hamilton. Pelo menos não protagonizou seu habitual espetáculo de rodadas e saídas da pista, o que já pode ser visto como um relativo lucro.


- Outro que também mal apareceu na prova foi Nick Heidfeld: eficiente e discreto como de costume, o alemão também conseguiu ir além do que o péssimo BMW Sauber pode conseguir e garantiu mais dois pontos na tabela ao conquistar a 7ª posição. E, quem diria, está muito à frente de seu companheiro de equipe, o badalado Robert Kubica. Claramente desmotivado, o polonês foi apenas o 11º colocado.

- Lewis Hamilton, por sua vez, ficou na posição do bobo. A 9ª colocação final é um reflexo exato do fraquíssimo desempenho da McLaren em território espanhol. A equipe andou para trás, mas deve se recuperar em Mônaco - sobretudo por ser uma das pistas favoritas do atual campeão mundial.

- Chamou atenção também a queda de rendimento da Toyota: discreta nos treinos durante todo o fim de semana, a equipe que era tida como uma das forças da atual temporada alcançou apenas uma apagada 10ª posição, com Timo Glock. Muito pouco para quem esperava lutar por vitórias na fase europeia.


- Quatro vitórias em cinco corridas, cinco vitórias na carreira, líder do campeonato com 41 pontos - 15 pontos à frente do vice-líder, 19 pontos à frente de seu primeiro adversário direto. Este é Jenson Button. Além de brilhante e preciso, o inglês tem a seu favor um segundo piloto que é um excepcional acertador de carros e talvez o melhor escudeiro que a Fórmula-1 já teve em sua história. É impossível negar que Button é claramente o favorito ao título, e o faz por merecer.

Afinal de contas, como foi dito no início do texto, o britânico mostra corrida após corrida que não é apenas um bom piloto: é, de fato, um piloto campeão.

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