sexta-feira, maio 09, 2008




Noticias


Diabetes Tipo II


Interposição de Íleo.


9/5/2008 - Terra



Esperança - A doença é considerada crônica, ou seja, incurável. Entretanto, para os portadores do Tipo 2, começou já a algum tempo surgir uma “luz no fim do túnel” por meio de uma cirurgia chamada de interposição do íleo.

Para entendê-la, é preciso compreender como funciona um pouco do processo de produção de insulina pelo organismo.

Além do pâncreas, outros órgãos estão envolvidos no controle das taxas de glicose no sangue, como é o caso do intestino delgado, que promove a digestão e a absorção dos alimentos. No processo, o intestino fabrica as incretinas, que são hormônios capazes de potencializar a secreção de insulina, ajudando, assim, a baixar as taxas de glicose na corrente sanguínea.

Nesse caso, as incretinas GIP e GLP-1 são as que têm grande importância no controle da diabetes Tipo 2. Durante a digestão, o intestino libera GIP e GLP-1 para o pâncreas. Isso acontece da seguinte maneira: o intestino delgado é dividido em duodeno, jejuno e íleo. Quando o alimento deixa o estômago, chega ao duodeno e, nesse momento, moléculas de GIP são liberadas ao pâncreas. Depois, passa pelo jejuno e, somente quando o alimento chega ao íleo, as moléculas de GLP-1 são lançadas ao pâncreas. São essas moléculas de GIP e GLP-1 que estimulam o pâncreas a produzir insulina. Nos diabéticos, a quantidade de GIP é normal ao passo que a de GLP-1 é inexistente.

Dessa forma, a GIP sozinha não consegue estimular a produção de insulina pelo pâncreas. Da compreensão deste mecanismo, surgiu a cirurgia denominada interposição do íleo, que consiste em aproximar parte do íleo ao estômago. Com essa aproximação, o alimento chega mais rápido e menos degradado ao íleo, e, dessa forma, aumenta-se a produção de GLP-1 e melhora-se a ação da GIP. A técnica reduz, ainda, o estômago em 20%, promovendo a queda da produção do hormônio do apetite (grelina). Essa redução leva à perda de peso, o que diminui a resistência à insulina.

O responsável pela descoberta da técnica Interposição do íleo é o gastroenterologista Áureo Ludovico De Paula, doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), especialista em cirurgia e endoscopia do aparelho digestivo, obesidade e diabetes.

Ele conta que, desde 2003, dedica-se a essa técnica e garante que, por meio desse procedimento, é possível chegar à remissão da diabetes Tipo 2. “Após a cirurgia, o índice de sucesso está entre 90% e 95%, o que significa controle da doença sem a necessidade do uso de qualquer medicação antidiabética”, afirma o médico.

Segundo sua avaliação, é remota a possibilidade da diabetes Tipo 2 voltar a se manifestar em pacientes bem-sucedidos na cirurgia. “Desconheço caso de recidiva da doença até o momento, cinco anos após os primeiros casos”, garante ele.

O método, também chamado de Interposição IIeal ou Freio Neuroendócrino, foi relatado pelo doutor De Paula na edição de agosto de 2006 da revista Surgical Endoscopy, da Sociedade Americana de Cirurgiões Gastrointestinais e Endoscópicos. “Esse procedimento é indicado, especificamente, para o tratamento da diabetes Tipo 2.

Outras doenças associadas a ela podem ser melhoradas ou mesmos curadas, como, por exemplo, distúrbios do colesterol, triglicérides e hipertensão arterial”, explica. Mas o médico faz um alerta importante. Nem todos os diabéticos Tipo 2 podem se submeter à interposição do íleo.

O doutor De Paula informa que essa cirurgia não é recomendada para pessoas acima de 70 anos portadoras de doenças concomitantes graves, como cirrose hepática, enfisema pulmonar avançado, doença renal avançada, dentre outras.

A cirurgia - O Dr. Áureo De Paula coordena o Centro de Gastroenterologia e Obesidade, em Goiânia (GO), no qual faz todas as consultas e exames. As cirurgias, sempre lideradas por ele, podem ser feitas no Hospital de Especialidades, em Goiânia, ou no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP). São exigidos do paciente que deseja se submeter à interposição do íleo cuidados pré-operatórios, como avaliação clínica e laboratorial e rigoroso controle da glicose sanguínea. “Toda e qualquer intervenção cirúrgica está associada a algum risco.

No caso específico da diabetes Tipo 2, esse risco está aumentado na dependência das condições clínicas básicas de cada paciente”, informa o médico. Com todos os exames favoráveis às condições exigidas para a realização da cirurgia, o paciente está pronto para ser operado.

A internação hospitalar dura de dois a três dias e, em geral, a recuperação completa se dá em uma semana. O Dr. De Paula esclarece que, por não haver corte, uma vez que o procedimento é feito por via laparoscópica (quatro furinhos de cinco milímetros no abdômen por onde penetram os instrumentos cirúrgicos), não há necessidade de repouso físico, mas ele alerta: “O pós-operatório envolve, especialmente, cuidados alimentares até que ocorra adequada cicatrização interna”.

Resultados - A eficiência do método vem se confirmando a cada paciente operado. A funcionária pública Legínia Maria de Jesus Miranda, 56 anos, moradora de Goiânia (GO), submeteu-se à cirurgia em 5 de novembro de 2005 e declara que nasceu de novo. “Renasci. Tenho uma nova vida, disposição, alegria e não tenho mais problemas de saúde”, comemora Legínia, que tem muitos motivos para celebrar.

Depois de descobrir por meio de exames de rotina, em 2000, que era diabética do Tipo 2, ela passou a travar uma luta diária para controlar sua taxa de glicemia, que chegou a 520 mg/dl, quando o normal é de até 100 mg/dl. Em decorrência da diabetes, vieram outras complicações, como a depressão, problemas no fígado, devido ao acúmulo de gordura, e a perda gradativa da visão. “Meu nível de vida estava muito precário. Sentia um cansaço acentuado. Tomava remédios caros, no entanto, não havia perspectiva alguma de melhora”. Ela recorda-se de que, em 2005, antes de decidir fazer a cirurgia de interposição do íleo, precisou ficar internada várias vezes para estabilizar a pressão e o nível de glicose no sangue. “Encarei a cirurgia como uma decisão de vida ou morte e decidi que deveria tentar realmente sair daquela situação”, relata.

O sucesso da intervenção cirúrgica em Legínia foi de 100%. “Eu saí do hospital sem tomar nenhum dos medicamentos que, antes, eram imprescindíveis no meu dia-a-dia”, assegura ela, que, desde então, faz exames de rotina de seis em seis meses, sob supervisão do Dr. Áureo De Paula.

Para Legínia, um dos grandes benefícios que a operação lhe trouxe foi o fato de ter sua dieta reequilibrada. “A dieta que a cirurgia impõe é uma reeducação de hábitos alimentares, e, com isso, minha qualidade de vida melhorou muito”, avalia a funcionária pública.

Para ela, ter fé é fundamental em qualquer situação e credita a Deus sua vitória sobre a doença. “A fé é o combustível. Pedi a Deus forças e fé para vencer meus problemas de saúde”, revela, com a gratidão de quem foi abençoada. O engenheiro civil Alfredo Soubihe Neto, 50 anos, membro da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra, em Goiânia (GO), também não sentiu qualquer efeito colateral depois de se submeter à interposição do íleo.

Ele foi operado pelo doutor Áureo em 28 de novembro de 2005. “Minha situação de saúde era preocupante. Tomava sete remédios diferentes por dia e injetava insulina todas as noites”, afirma, acrescentando que, apesar dos medicamentos, a doença estava progredindo. Depois do pós-operatório no hospital – que, no seu caso, durou de quatro a cinco dias –, Alfredo seguiu sua vida normalmente, cumprindo a agenda de trabalho.

Segundo ele, se o paciente seguir à risca cada uma das recomendações médicas, tudo corre bem. “A recuperação completa depende da disciplina do paciente. No meu caso, foram seis meses para me adaptar à reeducação alimentar. Depois da cirurgia, a dieta precisa ser rigorosa devido ao processo de cicatrização interna”, reitera. “Hoje, estou bem. Faço exames periódicos de seis em seis meses e todas as minhas taxas – colesterol, pressão, insulina, glicemia etc. – estão normais".

A cirurgia faz com que a gente tenha controle sobre a fome e sobre a vontade de comer. "Agora, como de tudo: chocolates, doces, tudo mesmo, mas somente o necessário, sem abusar”, avisa Alfredo Neto, que não tem dúvidas sobre sua cura. “O Dr. Áureo fez o possível, Deus fez o impossível".

Nenhum comentário: